quarta-feira, 10 de março de 2010

Estudantes protestam por passe livre nos ônibus



Estudantes fizeram uma manifestação na tarde desta terça-feira (9) em frente à Companhia de Transportes Urbanos da Grande Vitória (Ceturb-GV), na avenida Beira-Mar, em Vitória. Os manifestantes - que reivindicam passe livre nos ônibus do Transcol - ocuparam duas faixas da avenida no sentido Praia-Centro.

Os estudantes atearam fogo em pneus e sentaram na pista. Quando um grupo se preparava para interromper o trânsito, fechando a terceira pista, houve interferência da Polícia Militar e da Guarda Municipal e o clima ficou tenso no local.

Um dos estudantes foi puxado pelos cabelos e jogado no chão. A polícia retirou os manifestantes da pista e acabou com o protesto.

Sobre a ação contra os estudantes, a Polícia Militar informou que a orientação foi para que os policiais somente acompanhassem a manifestação. Já a Guarda Municipal de Vitória disse que qualquer procedimento considerado abusivo deve ser denunciado formalmente junto à Ouvidoria da Guarda.

Além do passe livre nos ônibus, os estudantes querem a redução no preço das passagens e uma nova data para os reajustes, já que em dezembro, quando acontece a reunião do Conselho Tarifário (Cotar), a classe estudantil já está em férias. Eles reivindicam que a discussão aconteça durante o período letivo.

Reajuste

Em nota, a Ceturb informa que o reajuste da tarifa do Transcol é anual e acompanha o aumento dos custos do sistema durante o ano com combustível, pneus, mão de obra e veículos. Os valores são aprovados em reunião do Conselho Tarifário da Grande Vitória (Cotar), que conta com representação de estudantes, onde todas as planilhas de custos são apresentadas.

A Ceturb ressalta que a posição dos estudantes pode ser submetida ao Cotar, por meio de seu representante, nas reuniões periódicas que acontecem durante o ano (em 2009 foram quatro). Segundo a Companhia, a tarifa do Sistema Transcol é uma das tarifas metropolitanas integradas mais baratas do país e, em 2009, mais de 27 mil estudantes de ensino médio foram beneficiados com gratuidade integral para ir e voltar da escola. Mais de 52 mil estudantes possuem gratuidade parcial e pagam meia tarifa.

A companhia acrescenta que não é justa a informação de que a Ceturb-GV não é aberta ao diálogo. O grupo que realizou a manifestação desta terça-feira foi atendido pela diretoria no Setpes no dia 06 de fevereiro e pela gerência de atendimento ao usuário, na sede da Ceturb-GV em outra data, embora nenhuma reunião tenha sido previamente solicitada ou agendada

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O Operário Em Construção

Composição: Vinicius de Moraes

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
– "Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Quando teremos um ano novo de verdade?


Mais um fim de ano. Para mim, eles já somam 19. Dizem que agora tudo será melhor. Não acredito, tudo continua angustiantemente igual, ao passo que desalentadoramente diferente. Terminais rodoviários cheios e cabeças vazias. Como se o enorme barulho causado por conversa, criança ou pandeiro fosse capaz de nos preencher, de sufocar o silêncio constrangedor que insiste em nos lembrar, e sempre de modo inconveniente, de nossa impotência, nossos medos, nossos segredos, nossa imperfeição.

Celulares, milhões deles. Cada um com o seu, e todos melhores que o meu. Graças a Deus. Os aparelhos são trocados constantemente, assim como os amigos, os amores, o caráter. Viva a Era do Consumo Desenfreado. Agora a moda é ter celulares que tocam músicas em volume alto, para que todos possam ouvir – e quanto pior a música mais alto parece ser o volume do som. Onde foram parar os benditos fones de ouvido? As pessoas parecem não mais existir para si próprias, na verdade parecemos todos pobres coitados nos sacrificando para chamar a atenção dos demais. Todos. Capazes do mais deprimente e desesperado uivo em busca de olhares de admiração (profundamente gratos e aliviados, no entanto, diante de qualquer reação que ultrapasse o simples e inaceitável “pouco caso”). E como me incomoda ser obrigado a compartilhar dos barulhos dos outros. Não suporto nem sequer os meus próprios. Apareço, logo existo. Por quê?

Chegamos ao litoral sem notar o trabalho do motorista do ônibus, do vendedor de passagens, da atendente da lanchonete. Mas chegamos aonde queremos alegres e felizes, e em grande medida por causa deles. Eles não chegam aonde querem, não passam o Ano-Novo com as pessoas que amam. Nossa culpa?

Chega a hora. A mais esperada e curiosa de todas. À caminho da praia, mãos carregam garrafas cheias de champanhe. As mesmas mãos humanas, um pouco mais marcadas pelo trabalho forçado de uma vida precária, carregam sacos igualmente cheios. Sacos cheios de latas vazias. E cheios de sofrimento também. E talvez muito mais cheios de dignidade e esperança do que nós e nossas existências vazias vestidas de branco e preenchidas de champanhe. (Digo “nossas” pois também participo do ritual e carrego a minha garrafa, e não sei dizer exatamente se sinto mais prazer ou culpa por isso.)

Sorrisos branquíssimos porém falsos, narizes empinados, e a atenção toda voltada para o céu. É sempre assim, todos de olho no Céu, enquanto a miséria notória ao redor é ignorada, enquanto pessoas são pisadas aqui nesta Terra. Shows pirotécnicos iluminam o céu do presente. E nublam o céu do futuro. Mas para que se preocupar? É Ano-Novo, minha gente. E, no próximo ano, tudo será diferente. A preocupação com o meio ambiente só cai bem em determinados momentos, deixemos nossa responsabilidade ambiental guardada junto aos moletons e casacos de lã. Afinal, não sejamos radicais. Saibamos buscar o equilíbrio e a tolerância. É preciso aceitar um pouquinho de corrupção e hipocrisia de vez em quando. Tudo faz bem na medida certa, apenas o que é demais faz mal. Sinceridade demais, então, nem se fala, não é mesmo? Ah, como me custa essa lição... receio ainda ter um longo caminho a percorrer até realmente aprendê-la. E talvez nunca a aprenda de verdade.

Os fogos estouram e eu, máquina com defeito, compreendo meus semelhantes cada vez menos, o que me traz a dúvida perigosa de que talvez não sejamos tão semelhantes assim. Penso em como as futuras gerações vão nos ver como imbecis. Assim como nós rimos dos mais curiosos rituais do passado – ou seja, dos que destoam do nosso pretenso mundinho avançado e civilizado –, elas vão gargalhar de nós e de nossos ritos inexplicáveis. Pelo bem deles, espero que pensem assim e que riam até doer a barriga. E que barrigas absolutamente só doam por causa disso. Que sirvamos ao menos de exemplo do que não deve ser feito.

Enquanto isso, bebo o meu champanhe pela boca e pelo nariz. Bebo tudo rapidamente para me livrar o quanto antes desse símbolo de que pertenço ao lado nobre da festa. Acabo com a garrafa que me separa dos meus iguais. E, assim, consigo esquecer toda a chatice que eu mesmo escrevi acima. Abraço a todos. Desejo feliz Ano-Novo até a quem não conheço. A quem gosto e a quem não gosto. E a quem não gosto nem desgosto. E, a cada gole de álcool, pareço mais perto das pessoas ao meu redor. E muito, muito mais longe do que Deus e eu esperamos desta espécie, que surpreendentemente sobrevive mesmo perseguindo com todas as suas forças a extinção.

Lucena

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Um parêntese.

Ele me segurava com força
Comprimindo-me ao seu peito
Me sufocando com prazer
Deliciando-me com seus lábios

Eu sentia seu coração junto ao meu
Sua mão tremia
Respirava forte
Me puchava e me amava.



(pena Nono não estar aqui. rsrs :p)

sábado, 11 de julho de 2009

Raul Seixismo.

Não sei onde eu to indo
Mas sei que eu to no meu caminho
Enquanto você me critica, eu to no meu caminho
Eu sou o que sou, porque eu vivo a minha maneira

Você esperando respostas, olhando pro espaço
E eu tão ocupado vivendo, eu não me pergunto, eu faço

Não sei onde eu to indo
Mas sei que eu to no meu caminho
Enquanto você me critica, eu to meu caminho
E se você quiser contar comigo e melhor não me chamar pra jogar bola

quinta-feira, 9 de julho de 2009

"Às vezes olho para minha própria cara e acho que ela está bem 'rodada'. Mas, considerando tudo pelo que já passei, não me acho tão mal assim."

"A única coisa que se tem e que realmente vale são os sentimentos. Isto é que é música para mim."






Janis Joplin foi muito mais do que a única branca a alcançar reconhecimento interpretando blues (reduto de músicos negros, principalmente quando consideradas artistas do sexo feminino), foi também cantora de rock, dona de uma voz incomparável e capaz de imprimir às músicas que cantava uma marca inconfundível de interpretação e sensualidade.

"Nos meus shows, a maioria das garotas estão procurando liberação, e elas pensam que eu vou lhes mostrar como se consegue isso. Mas na primeira fila sempre ficam as grã-fininhas, as comportadinhas, as putinhas reprimidas que ficam esperando todo mundo começar a gritar e dançar para poderem dançar e gritar também. Elas chegam num determinado ponto que eu sei que estão prontas, mas não têm coragem. Então precisam de um pé-na-bunda para se levantarem também. Aí é que eu entro: eu lhes dou esse chute na bunda! eu fui criada exatamente como elas. Sim. Logo, eu sei o que elas têm nessas cabecinhas estúpidas e vazias."

Cresceu ouvindo músicos de blues, tais como Bessie Smith e Big Mama Thornton e cantou no coro da igreja local (o hit “Down On Me” foi uma adaptação feita por Janis de uma canção gospel para colocar no repertório da Big Brother and The Holding Co.).

Janis sofria muitos preconceitos dos moradores da provinciana cidade texana, por sua “beleza fora do padrão”, pelo seu envolvimento com o blues, a poesia e a pintura (Beatniks) e por seu engajamento na luta contra o preconceito racial. Ela foi praticamente expulsa de Port Arthur, seguindo para a Universidade do Texas, na cidade de Austin, onde começou a cantar blues e folk com amigos.

Joplin se vestia como os poetas da geração beat - A Geração Beat era formada por um grupo de jovens intelectuais estadunidenses que, em meados dos anos 50, cansados da monotonia da vida ordenada, da idolatria à vida suburbana na América do pós-guerra e do culto ao “sonho americano” resolveram, regados a jazz, blues, drogas, sexo livre e pé-na-estrada, fazer sua própria revolução cultural por meio da literatura.

Em 1963 seu uso de drogas, principalmente de anfetaminas, começou a aumentar, inclusive, Janis já “flertava” com a heroína. Janis sempre bebeu muito em toda a sua carreira, e sua bebida preferida era o whisky Southern Comfort. A fábrica do Southern Comfort chegou a dar presentes a Janis, pois ela fazia a propaganda do produto sem cobrar nada. rsrsrs...O uso de drogas chegou a ser mais importante para ela do que cantar, e chegou a arruinar sua saúde. Em 1964, por exemplo, ela pesava 43 quilos e teve que voltar ao Texas, pois junto à família poderia se cuidar melhor.




BIG BROTHER AND THE HOLDING COMPANY

Depois da recuperação em Port Arthur, Janis conheceu Chet Helms. Helms “empresariava” bandas e produzia shows em San Francisco e disse a Janis que havia uma banda de lá que precisava de uma vocalista.

Janis conversou com sua mãe e a convenceu de que aquela oportunidade era única para se alcançar o sucesso.

O objetivo de Helms era fazer Janis ingressar no grupo “Big Brother and The Holding Company”, que estava ganhando algum destaque entre a nascente comunidade hippie na esquina da Rua Haight com a Rua Ashbury.

A idéia dos caras da banda era fazer o que a banda Jefferson Airplane estava fazendo, inclusive, o baixista Peter Albin já havia até sonhado com a vocalista. Segundo ele, no sonho, a moça era linda como a Grace Slick e tinha uma voz suave. Rsrsrs... Janis chegou.

Não tinha a beleza que os caras imaginaram, se vestia com panos enrolados pelo corpo, usava um cinto feito de ossos de galinha e cheirava a patchouli... rsrsrs... mas, a voz e a intimidade com o blues, com o rock e com os improvisos fizeram a cabeça dos Brothers.

Em poucos meses Joplin tirou a banda da obscuridade, logo assumindo sua liderança.

A banda foi consagrada no Monterey Pop Festival em Junho de 1967, com uma versão da música "Ball and Chain" e os marcantes vocais de Janis. Seu álbum de 1968 "Cheap Thrills" fez o nome de Janis.

THE KOZMIC BLUES BAND

Em busca de mais liberdade de decisão nos rumos que sua carreira tomava, Janis Joplin forma a sua própria banda, “The Kozmic Blues Band”.

Com este grupo, Janis grava seu primeiro álbum solo, “I Got Dem Ol' Kozmic Blues Again Mama”, de 1969. Na minha opinião, o melhor disco.O resultado, porém, não foi tão bom quanto o esperado, pois, embora a sua nova banda tivesse melhores músicos e melhores condições, Janis não estava bem e o excesso de drogas (principalmente heroína) e bebidas refletiu-se no disco. Janis entrava em estúdio totalmente fora de si, sua voz já estava um pouco desgastada pelo álcool... O álbum é marcado por improvisações vocais.

Porém, tem algo muito importante que marca este disco e que poucos citam: Janis encontrou, ali, a sua identidade musical. O lance da “branca com voz negra” ou “uma branca no reduto do blues e etc.” vem daí. Este disco foi um sonho realizado de Janis Joplin.

Ela não se considerava uma “cantora de rock”. “I Got Dem Ol' Kozmic Blues Again Mama” era universo de Janis. O metais, os vocais, tudo. Pena que ela estava “fora de órbita” e não pôde sentir, verdadeiramente, o gosto de ver seu sonho realizado.

Nesta época, ainda, Janis foi presa em Tampa (EUA) por desacato à autoridade. Ela gritava obscenidades para os policiais. Parece-me que Jim Morrison estava neste acontecimento também.





FULL TILT BOOGIE BAND.......... E O FIM

Em busca da sonoridade mais simples e eficiente Joplin reformou sua banda com o novo nome de “Full Tilt Boogie Band”.

As mudanças no estilo foram imensas, com uma sonoridade que destacava seu vocal, que havia se desenvolvido sensivelmente. Janis estava bem. Estava fazendo tratamento para parar com as drogas e estabeleceu uma espécie de roteiro para as suas bebedeiras.

Bebia de manhã ou quando acordava, dormia um pouco a tarde, ficava sóbria a noite e voltava a beber de madrugada... Assim, ela poderia “se acompanhar” durante os shows, pois, chegou um momento em que Janis não se lembrava de nada, nem dos shows e das performances e nem do lugar onde estava. Além disso, estava noiva de Seth Morgan, pensava em ter filhos e largar a carreira musical e todas as loucuras.

Uma vez ela disse: "Tenho medo de acabar me tornando uma dessas velhas bêbadas e roucas, que ficam vadiando pela rua assediando rapazinhos."

Parêntese! JANIS NO BRASIL




Em Fevereiro de 1970, Janis veio ao Brasil, para participar do Carnaval.

Janis Joplin veio ao Brasil com um sonho em mente: tocar na praia de Ipanema. Não rolou, pois aqui, ela era pouco conhecida, ou melhor, pouco popular (pode-se ver pela ignorância do segurança do Copacabana Palace), então ela deu algumas canjas junto com o Serguei em alguns bares e depois do episódio do carnaval, se mandou para a Bahia e passou uns dias numa comunidade alternativa (não lembro o nome) que tinha num lugar lá.

Hoje, esta comunidade ainda existe e o quarto em que Janis se hospedou nunca mais foi mexido depois de sua passagem por lá.

RETORNO AOS EUA... O FIM
Ela volta para os Estados Unidos, se une definitivamente a Seth Morgan e segue feliz da vida com a sua nova banda. A essa altura, Janis já havia incorporado, definitivamente, mais uma de suas diversas personagens: PEARL. Falar de Pearl é um tanto complexo...

Em meio às gravações do álbum “Pearl”, no dia 04 de outubro de 1970, Janis foi encontrada morta no quarto do Hotel Landmark, em Los Angeles, Califórnia, com apenas 27 anos de idade.

Neste dia, ela havia saído do quarto e descido para ir comprar cigarros. Quando voltou, caiu devido a overdose de heroína e álcool, seu nariz foi quebrado pela queda e as marcas de agulhas ainda apareciam nos braços (uma vez mais a maldita droga destruindo talentos).

Janis foi cremada no cemitério-parque memorial de Westwood Village, na cidade de Westwood, Califórnia, e suas cinzas foram espalhadas pelo Oceano Pacífico em uma cerimônia.


Dias antes de morrer ela soltou essa:

"Eu quero ver como vai ser a música daqui a uns cinco anos. Eu comecei com música rudimentar, mas os jovens de hoje têm uma base musical incrível: Eles possuem a liberdade completa que o rock conseguiu! Eles cresceram ouvindo Jefferson Airplane, Milles Davis, Grateful Dead, enfim, todo mundo. Ah! Mal posso esperar para ver o que essa garotada vai estar tocando daqui a cinco anos!!! Só espero estar por lá nesta época. Quero cantar com eles, ou, pelo menos, ter grana para vê-los tocar."

Janis Joplin foi um grande exemplo de vida e de artista! Em apenas vinte e sete anos de vida, combateu vários fantasmas, mas, infelizmente, não conseguia vencê-los... O mundo perdeu uma grande cantora de ouvido apurado e afinação singular, e as pessoas mais próximas dela, talvez tenham perdido um ser de bondade que só buscava amor, alegria e, principalmente, ser um pouco mais feliz em meio aos seus tormentos... Talvez a morte tenha sido um alívio para Janis!


quarta-feira, 8 de julho de 2009

A HIPPIE E A PATRICINHA


Há poucos dias, uma jovem se aproximou da banca de artesanato de uma hippie mais do que cinquentona, e ficou observando alguns brincos feitos com penas e arames.
A banquinha, que estava numa praça, era bem simples, com uma armação em madeira que se desmonta em uma única peça. Sobre ela, um pano escuro e muita bijuteria de vários formatos e cores.

A hippie usava vestido comprido, de algodão, tingido com corantes diversos. Calçava sandálias de couro já bem gastas. Nos braços, diversas pulseiras; no tornozelo esquerdo, uma corrente de linha. Carregava ainda uns três a quatro cordões de conchas e sementes. Na cabeça, um arco em madeira prendia os cabelos maltratados. Nos dedos, anéis de osso.

A moça, de uns 17 anos, relativamente alta e magra, usava short bege, sapatos de salto alto. Os cabelos eram também compridos, mas bem cuidados, lisos. Estava com óculos escuros, aros grandes. A blusa era estampada, sem manga, e alças com detalhes em rendas. No nariz, ostentava um pircieng pequeno, quase invisível.

As duas tinham tatuagens, várias, por sinal. A hippie tinha uma lua no braço esquerdo; no outro, a imagem de uma índia, e mais uma onde se lia fracamente “make love not war” (faça amor, não faça a guerra).

A jovem, por sua vez, também tinha uma lua no braço esquerdo. No ombro, um sol acima de nuvens e com pássaros, tudo bem colorido, bem acabado.

-Legal menina, esses traços aí. Muito legal também enfrentar os velhos preconceitos e marcar a liberdade na própria pele – disse a hippie para a garota, perguntando logo em seguida.

-Teus pais implicaram muito?

-"Implicaram com o quê”? – perguntou a minina.

-Com as tatuagens, poxa (Não foi bem essa palavra. Mas para a coluna tem de ser ela!) –

respondeu a vendedora de bijuterias.

-Não, de jeito nenhum. Meu pai achou bonito. E minha mãe deu a maior força. Até fez uma antes de mim, para eu ter mais coragem. Ela tem uma libélula linda no ombro. Por que não gostariam? Todas as minhas amigas também têm tatuagem.

-Tua mão faz o quê?

-É empresária... mas você também não tem um monte de tatuagem? – indagou a mocinha.

-Tenho, mas quando fiz a primeira meu pai me expulsou de casa. Me chamou de rebelde, disse um monte de coisa, falou que não ia sustentar vagabunda e me colocou na rua. Aí rodei mundo, me arrumei – respondeu a hippie.

-Mas você era rebelde?

-Claro, meu. Ficar suportando esses valores da burguesia, a prisão do lar, o discurso hipócrita da sociedade, a máquina do imperialismo americano...é pára isso que diz essas tatuagens, contra valor, entendeu? A força da contracultura – respondeu, em ritmo acelerado.

-Força de quê? – perguntou curiosa, a jovenzinha.

-Nada não, maninha, deixa para lá. Gostou dos brincos? São dois por cinco mangos.
A mocinha comprou alguns brincos e seguiu seu caminho.

A hippie ficou na praça, sozinha, sentada no seu banquinho. Passou um bom tempo pensativa, lembrando de sua juventude, dos protestos, do rock’n’roll. Finalmente, se levanta e caminhou até uma mulher bem arrumada que estava pela praça.

-Ei, você pode me dar uma indicação? – perguntou ela.

-Indicação de quê, minha senhora?

- Por acaso, você sabe onde eu posso encontrar um desses médicos que tiram tatuagem?



(Joel Soprani)